Ser-tão no vazio do devir.
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Manuel Nogueira
sem nuvem não adianta dançar
mais vale fazer
fumaça
castigando a terra com os
pés
quem racha seco
precisa exprimir fora
o mar de si
e aprender
a vazar
Sertão, do livro Corpos, de Arthur Lungov
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O tempo está dilatado, com passado presente e futuro sobrepostos. Já não se sabe mais a distância do ontem para o amanhã. O hoje é presente, carrega em si todas as urgências, devaneios e ansiedades, mas jamais reproduzirá o sentimento original que temos do escoamento de nós mesmos.
"(...) e viver consiste em envelhecer. Mas é, da mesma maneira, um enrolar-se contínuo, como o de um fio numa bola, pois nosso passado nos segue, cresce sem cessar a cada presente que incorpora em seu caminho; e a consciência significa memória". Henri Bergson.
"(...) e viver consiste em envelhecer. Mas é, da mesma maneira, um enrolar-se contínuo, como o de um fio numa bola, pois nosso passado nos segue, cresce sem cessar a cada presente que incorpora em seu caminho; e a consciência significa memória". Henri Bergson.
O que Bergson diz é que cada ser humano pode experimentar diferentes temporalidades que, de algum modo, ressoam com durações que fazem parte do universo. Ele propõe o puro pensamento e uma maneira mais ética de viver que implica em empatia com outros seres, de forma a experimentar durações maiores, menores ou iguais as nossas, convocando um pensamento por meio do qual possamos nos transportar para o interior do outro e de nós mesmos.
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Manuel Nogueira
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O TEMPO COMO UMA MANEIRA DE EXPERIMENTAR A VIDA, COMO UM AFETO, UM MODO DE SER E DE ESTAR PRESENTE NA TERRA.
Cada tempo vivido incorpora uma singularidade que entra na memória-homem, acionada conforme a excitação (estímulos) do presente e do encontro, nos permitindo coexistir com todo o nosso passado.
Pensar o tempo como um acúmulo de histórias e camadas despertas ao devir nos provoca a estar no momento imediato longe de uma duração humana, demasiadamente humana, sem responder por inércia aos estímulos do presente. Isso nos dá outras possibilidades de ser e estar, permitindo acessar uma subjetividade espiritual, uma arte do sonhar e do amor, experimentando o nosso próprio eu mais profundo em seu fluir através do tempo.
Pensar o tempo como um acúmulo de histórias e camadas despertas ao devir nos provoca a estar no momento imediato longe de uma duração humana, demasiadamente humana, sem responder por inércia aos estímulos do presente. Isso nos dá outras possibilidades de ser e estar, permitindo acessar uma subjetividade espiritual, uma arte do sonhar e do amor, experimentando o nosso próprio eu mais profundo em seu fluir através do tempo.
“Orientados de dentro para fora, constituem, reunidos, a superfície de uma esfera que tende a expandir-se e perder-se no mundo exterior. Mas se me concentro da periferia para o centro, se procuro no fundo de mim mesmo o que é mais uniforme, mais constante, mais durável, eu mesmo encontro algo totalmente diferente”. Henri Bergson.
Deixar-se tocar pela temporalidade própria de cada coisa, distante da duração funcional dessa crosta solidificada na superfície de cada indivíduo, permite ao “eu profundo” aderir aos movimentos próprios do mundo existente e da vida, dando-se conta de que a vida se dá também nesse chão que treme.
Deixar-se tocar pela temporalidade própria de cada coisa, distante da duração funcional dessa crosta solidificada na superfície de cada indivíduo, permite ao “eu profundo” aderir aos movimentos próprios do mundo existente e da vida, dando-se conta de que a vida se dá também nesse chão que treme.
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“...Enquanto os experimentava, eles estavam tão solidamente organizados, tão profundamente animados com uma vida comum, que eu não teria podido dizer onde qualquer um deles termina, onde começa o outro. Na realidade, nenhum deles acaba ou começa, mas todos se prolongam uns nos outros.” Henri Bergson
Estamos o tempo todo de nossa existência em constante movimento, entre encontros, desencontros e afetos. Estar desperto ao sensorial e ao eterno devir em nossas tantas camadas de passados e presentes pode ser o caminho para este tempo que habitamos.
Estamos o tempo todo de nossa existência em constante movimento, entre encontros, desencontros e afetos. Estar desperto ao sensorial e ao eterno devir em nossas tantas camadas de passados e presentes pode ser o caminho para este tempo que habitamos.