Sliver brewed in the infinite.
Flagramos
Juntas
Pedra e eu
Pedra e eu
Medidas de um tempo injusto
E se o tempo for bomba
Rasante
Tempo em pedra
Lasca fermentada de infinito
Falando de pedra
Daquela que
Daquele lugar me olha
Falando de pedra não se escapa
Diante de pedaço de pedra
Cravado em terra
Tal dente enraizado em gengiva
Resta esperar
Sem desespero
Pedra se movimenta
Pés de elefante
A passos de tartaruga
Pedra gota vulcânica
Fragmento que fica
Este é um olhar que resta
Edith Derdyk: A pesar, a pedra
Um pedaço de terra com cicatrizes próprias. Atravessada pelo tempo, atinge sua maior potência em um constante devir. Uma matéria, objeto, peso e forma em movimento de encontro e desencontro com o entorno e com o homem. A consequência de um evento natural ou a própria causa dele. Cada uma com suas linhas e formas. A pedra: ela, bruta e única. Coisas do mundo que não são fabricadas e não possuem um significado direto, na potência de sua alteridade e suas qualidades materiais e temporais, como diz o artista Lee Ufan. Parte do todo em sua absoluta singularidade. Vive numa sincronicidade com o tempo, em ciclos orgânicos, de inícios e fins, em micro acontecimentos, porosos, solúveis e fluidos.
LINHAS PERCORREM ESSA SOLIDEZ QUE CARREGA SUA HISTÓRIA. RÍGIDAS OU DERRETIDAS DEBAIXO DA TERRA.
São a causa e o efeito de todo acontecimento. Uma pedra nunca chegará sem sua identidade, seu processo de lapidação, pela natureza ou pelo homem. Agrega-lhe outras camadas, num acúmulo de passados, onde cada tempo vivido incorpora uma singularidade. Uma ação e reação constante de impulsos, atravessada por narrativas que se somam a cada ato, numa fluidez contínua no enredo que carrega e na mensagem que se perpetuará.
"Certamente o acontecimento não é nem substância nem acidente, nem qualidade, nem processo; o acontecimento não é da ordem dos corpos. Entretanto, ele não é imaterial; é sempre no âmbito da materialidade que ele se efetiva, que é efeito; ele possui seu lugar e consiste na relação, coexistência, dispersão, recorte, acumulação, seleção de elementos materiais; não é o ato nem a propriedade do corpo; produz-se com o efeito de e em uma dispersão material" (FOUCAULT, 1996, p. 57).
A rocha derretida e fundida, em movimento constante, no interior profundo do planeta, é forçada para a superfície e, ao endurecer, forma a crosta terrestre, transformando-se em pacas tectônicas. A fricção entre elas é lenta, contínua e em seus limites. Esse deslocamento leva bastante tempo e é responsável por diversas transformações e fenômenos que ocorrem: formação de montanhas, vulcões, terremotos e continentes. Cada magma com sua composição única é o que define as potências de cada erupção do vulcão e seu poder de ação.
Partimos da definição técnica para poder compreender que o microcosmos e o macrocosmos estão sempre se atravessando, em acontecimentos múltiplos e não isolados. Toda ação chega com sua reação em consequências transformadoras para o mundo e o ser humano.
“Toda sociedade, mas também todo indivíduo, são, pois, atravessados pelas duas segmentaridades ao mesmo tempo: uma molar e outra molecular. Se elas se distinguem, é porque não têm os mesmos termos, nem as mesmas correlações, nem a mesma natureza, nem o mesmo tipo de multiplicidade. Mas, se são inseparáveis, é porque coexistem, passam uma para a outra, segundo diferentes figuras como nos primitivos ou em nós - mas sempre uma pressupondo a outra. (DELEUZE; GUATTARI, 1995b, p. 82).
CADA ACONTECIMENTO, CADA TROCA, CADA FATO HISTÓRICO, CADA AFETO, CADA TUDO QUE ACONTECE EM NOSSO ENTORNO,
lapida essa rocha que se transformará em grandes marcos do mundo. Está tudo conectado, mas numa tentativa fugaz de sair da inércia, de perceber que o micro e o macro dialogam um com o outro o tempo todo. A pedra como um sinal de força, de magnitude, a natureza como esse palco de acontecimentos e nós, seres humanos, como agentes transformadores desse diálogo, com narrativas precisas, orgânicas e potentes.