Real bodies on demand.

Urbanears Pink collection by Arvida Bystrom

17.05.2021

LAURA STUMM

Toda geração de mulheres introduz novas mídias na narrativa feminina que constroem diferentes possibilidades de se relacionar com o corpo. As redes sociais, mais que ferramentas, servem como tecnologias do self, e vêm mudando o debate sobre a sexualidade e o exibicionismo do corpo feminino. 

Vênus Renascentista, garotas pin-up, gostosona de biquíni na campanha de cerveja — a mulher foi, por muito tempo, representada por meio de dois prismas opostos: o objeto desejado pelo olhar masculino ou o ser angelical-maternal. 

Um primeiro antagonismo a essa ordem foi a quebra do privado. Fotógrafas como Nan Goldin foram precursoras por registrar suas intimidades. Quase 30 anos depois, temos um novo movimento feminino que também usa a imagem em vez das palavras, ou ainda melhor: torna o exibicionismo um discurso.

Desde a chegada da internet, a fotografia passou a ser consumida de uma maneira diferente. Em 2010, com a criação da front facing camera, a autoimagem do corpo feminino (trans travesti ou cis) se tornou ainda mais controlada e disseminada. No anseio de criar suas próprias narrativas, sejam elas românticas, queer, porn, ou chocantes de outras formas, algumas mulheres respondem através de estéticas que se desenham entre o agressivo e o girlishly cute. O material é o próprio corpo em realidades e banalidades com tons de humor, ironia e exagero, que podem ser registradas da cama do quarto e enviadas para o mundo.

NESSA FLUIDEZ VIRTUAL, O CORPO NÃO SE LIMITA A PADRÕES E BONS COSTUMES.

O rebolado e o boobs estão liberados. Os Tik Toker inclusive já chancelaram a ideologia gostosaBimbos, e-girls, @gostosaspobres, não importa a identidade, desde que a imagem imite o real e se torne viral. O tom pode ser de perversão mesmo, pois, afinal, depois de anos vivendo um feminino ficcional numa sociedade patriarcal, quaisquer imagens dessas confrontam o que é ensinado — ou seja, já nascem subversivas.

BEING WATCHED MEANS COMING TO LIFE AND BEING SOMEONE.

Internet e social media permitiram a uma nova geração de mulheres que seus discursos fossem ouvidos. Através de selfies, performance e exibicionismo, elas exploram a linha tênue entre a rede e o real. Se a cada momento vemos fotos mais chocantes, é porque o corpo precisa se manter fresh. É pela repetição e pelo exagero que as imagens podem criar novas verdades.

Aos críticos conservadores, podemos dizer que, se isso parece um pouco grosseiro e irreal, então deixem de consumir as imagens, pois, caso contrário, elas é que irão consumi-los. Apenas keep the fiction going.

"THE MODEL FANTASY IS PROBABLY THE MOST WIDESPREAD CONTEMPORARY DREAM SHARED BY YOUNG WOMEN FROM ALL BACKGROUNDS." THE BEAUTY MYTH - NAOMI WOLF