Real bodies on demand.
Urbanears Pink collection by Arvida Bystrom
Toda geração de mulheres introduz novas mídias na narrativa feminina que constroem diferentes possibilidades de se relacionar com o corpo. As redes sociais, mais que ferramentas, servem como tecnologias do self, e vêm mudando o debate sobre a sexualidade e o exibicionismo do corpo feminino.
Vênus Renascentista, garotas pin-up, gostosona de biquíni na campanha de cerveja — a mulher foi, por muito tempo, representada por meio de dois prismas opostos: o objeto desejado pelo olhar masculino ou o ser angelical-maternal.
Um primeiro antagonismo a essa ordem foi a quebra do privado. Fotógrafas como Nan Goldin foram precursoras por registrar suas intimidades. Quase 30 anos depois, temos um novo movimento feminino que também usa a imagem em vez das palavras, ou ainda melhor: torna o exibicionismo um discurso.
Desde a chegada da internet, a fotografia passou a ser consumida de uma maneira diferente. Em 2010, com a criação da front facing camera, a autoimagem do corpo feminino (trans travesti ou cis) se tornou ainda mais controlada e disseminada. No anseio de criar suas próprias narrativas, sejam elas românticas, queer, porn, ou chocantes de outras formas, algumas mulheres respondem através de estéticas que se desenham entre o agressivo e o girlishly cute. O material é o próprio corpo em realidades e banalidades com tons de humor, ironia e exagero, que podem ser registradas da cama do quarto e enviadas para o mundo.
NESSA FLUIDEZ VIRTUAL, O CORPO NÃO SE LIMITA A PADRÕES E BONS COSTUMES.
O rebolado e o boobs estão liberados. Os Tik Toker inclusive já chancelaram a ideologia gostosa. Bimbos, e-girls, @gostosaspobres, não importa a identidade, desde que a imagem imite o real e se torne viral. O tom pode ser de perversão mesmo, pois, afinal, depois de anos vivendo um feminino ficcional numa sociedade patriarcal, quaisquer imagens dessas confrontam o que é ensinado — ou seja, já nascem subversivas.
BEING WATCHED MEANS COMING TO LIFE AND BEING SOMEONE.
Internet e social media permitiram a uma nova geração de mulheres que seus discursos fossem ouvidos. Através de selfies, performance e exibicionismo, elas exploram a linha tênue entre a rede e o real. Se a cada momento vemos fotos mais chocantes, é porque o corpo precisa se manter fresh. É pela repetição e pelo exagero que as imagens podem criar novas verdades.
Aos críticos conservadores, podemos dizer que, se isso parece um pouco grosseiro e irreal, então deixem de consumir as imagens, pois, caso contrário, elas é que irão consumi-los. Apenas keep the fiction going.
Aos críticos conservadores, podemos dizer que, se isso parece um pouco grosseiro e irreal, então deixem de consumir as imagens, pois, caso contrário, elas é que irão consumi-los. Apenas keep the fiction going.