The body can 'fall'
the post-human aesthetics.

“Sinto que somos todos ciborgues. Não nos sentimos assim, não percebemos, mas estamos tão conectados com a tecnologia que quase nos fundimos a ela. Está se tornando parte de quem somos.” [Johanna Jaskowska, artista alemã]

26.04.2021

LAURA STUMM

Não podemos mais acreditar que a internet será uma janela virtual para entendermos o mundo. Ela já é maior que o mundo. Unir humanos à máquina não é um futuro distante da ficção científica, mas uma realidade presente, que quebra a norma do corpo físico. 

Ao longo dos tempos, a condição humana foi investigada pela arte, pela literatura, pela ciência e pela antropologia. Porém, a internet nos possibilitou abrir mão da nossa versão corpórea para alcançarmos um outro reconhecimento da nossa identidade. 

Filtros, avatares, virtual companions e realidades imersivas. Tudo isso está definindo o cenário para um futuro no qual humanos e tecnologia se fundem fluidamente. Entre essas novas alternativas, surge o disembodiement, ou seja, recriar a vida a partir do seu corpo on-line, em que você poderá ter uma imagem inédita e sentidos totalmente novos.

DISEMBODIEMENT É A IDEIA DE QUE O CORPO FÍSICO NÃO SE FAZ MAIS NECESSÁRIO.

A normalização da estética ciborgue permite a compreensão de novas ideias através da conexão entre corpos distintos — porém afins — em expansão, e é pela web que novas interações acontecem. Na internet, passamos a nos perceber a partir da mediação que fazemos de nós mesmos. Isso foi super importante, pois foi pela intensidade da representação física que iniciamos a discussão sobre gênero e padrão de beleza, por exemplo. Porém, se ainda existem alguns tabus que a realidade não ultrapassou, é pelo virtual que podemos partir para uma resolução imaginada.

QUAL A FUNÇÃO SOCIAL DO CORPO E O QUE A AUSÊNCIA DELE SIGNIFICA PARA AS RELAÇÕES?

Uma vez que o eu imersivo é inteiramente manipulável, ele pode se tornar a mais intensa expressão da nossa personalidade. Quer um exemplo? Acompanhe @cece.grace em seu perfil. Provavelmente a CeCe física já tenha muita identidade, mas a manipulação, inserida no cenário, torna o corpo mais que teatral. A entrega da imagem vira uma experiência, uma mensagem mais forte que o discurso.

@cece_grace
@cece_grace
Aí se abre a possibilidade de chegarmos ao final de um dilema da internet. A artificialidade do escopo limitado (os corpos físicos ali disponíveis) nunca entregou, não nessa velocidade, a possibilidade de mudanças que queremos mostrar para a sociedade. 

A libertação do corpo feminino é um exemplo. Vitória Cribb é uma artista que tem como um dos pilares do seu trabalho a investigação dos padrões femininos na sociedade. Pelo 3D, ela pode ir além da racionalização das pautas e integrar uma visão de mundo.
Vitória Cribb e @mutantboard
"Acredito que a possibilidade de explorar a construção conceitual da imagem humana já consolidada e datada pela esfera midiática me instiga a representar visualmente algo tão próximo do real e tão distante da nossa integridade física, assim como investigar conceitualmente os papéis sociais de corpos negros e femininos analogicamente às existências/consciências tecnológicas exploradas para o desenvolvimento em uma sociedade acelerada e hiper produtiva.” [entrevista da artista para a kura arte] 

A sociedade está à beira de uma revolução que mudará a identidade e o comportamento humanos com as plataformas digitais abrindo novos caminhos. Estamos nos encaminhando para ler o mundo pelo nosso digital self, de onde partiremos para uma nova linguagem, ilimitada e fluida, em uma estética pós-humana. Esqueça aquele futuro que já está antigo, pois pode ser que ele surja de uma versão sua que você ainda não conhece.