Humans:
narratives creatures.
Ebinum Brothers
Em meados de 1987, aos 5 anos de idade, Kanzi foi parar na capa do New York Times. Um grupo de cientistas foi visitá-lo no estado da Georgia, nos EUA, e ficaram surpresos com o domínio gramatical de Kanzi. Alguns anos antes, ele já tinha domínio de cerca de 50 palavras em inglês, e as usava para declarar estados mentais abstratos espontaneamente: seja para falar que estava chateado por causa de uma briga com sua mãe, seja para anunciar que faria uma coisa 'má', e pegaria um objeto sem o consentimento da pessoa. Lá pela metade da década de 1990, ele ouvia a frase "Coloque a máscara de monstro e vá assustar a Linda", e assim o fazia, divertindo-se muito nesse processo.
Hoje, aos 39 anos, Kanzi está bem, vive com sua família, mas não se comunica tanto quanto antes - só quando quer e tem vontade. Porém, os lexigramas, sua ferramenta de comunicação, estão sempre por perto, e eventualmente ele faz uso deles. Kanzi mudou uma série de conceitos que a ciência tinha sobre linguagem e comunicação interespécies, o que o torna o macaco bonobo mais famoso da história da humanidade.
Kanzi é o personagem da história de uma história de uma outra história. A história dele nos fala sobre o que construímos como espécie e os conceitos que nos sustentam: como humanos tentamos assumir um lugar de protagonismo em nossa relação com a natureza, mas os símios sempre nos trazem de volta às nossas origens animais. A história de Kanzi ainda faz parte de uma outra história, a da ciência que, por conta do seu desenvolvimento ao longo dos anos, nos transforma em diversas instâncias. Já a história da ciência faz parte do desenvolvimento da espécie homo sapiens, e nos ajuda a entender a trajetória da história humana que, até o momento, ainda não parou de ser elaborada.
HUMANOS SÃO CRIATURAS NARRATIVAS QUE, POR MEIO DE MUDANÇAS ININTERRUPTAS NO ENREDO, REESCREVEM SUAS HISTÓRIAS A CADA INSTANTE.
Diferentemente de Kanzi, um ser vivo capaz de se comunicar fora de sua espécie, usamos a linguagem para dar sentido àquilo que não entendemos. Não somos apenas contadores de histórias - buscamos principalmente a experiência narrativa. É a narrativa que nos impulsiona, pois ela dá a seus interlocutores uma resposta emocional ocasionados pela sua estruturação. História é o que nos acontece; a trama é o porque nos acontece; a narrativa é a forma de como é contado o que nos acontece.
Vivemos em uma realidade onde o como é tão importante quanto o que nos acontece. Mediados pela tecnologia, e com ferramentas editoras que nos dão alguma autonomia autoral, nós ampliamos exponencialmente o hábito ancestral de criar e contar histórias. Não há consenso científico sobre os motivos que nos levaram a fazer esse ato tão único - de trocar, por meio da linguagem, uma sequência ordenada e reproduzível de fatos ou conhecimentos -, mas há uma teoria recente a esse respeito: Contar histórias provavelmente permitiu que todos os indivíduos em uma determinada sociedade conhecessem as regras do jogo e, portanto, aprenderam a trabalhar juntos sem muitos conflitos para alcançar um objetivo comum. Se contamos algo seja, talvez, por contarmos com a ajuda dos outros com quem convivemos.
A era que atravessamos, a do pós-tudo imprevisível, desafia storytellers na criação de narrativas que mobilizem as pessoas, tirando-as da inércia subjetiva. Estamos imersos em versões individualizadas da realidade, onde, apesar de tantos autores e protagonistas na história do mundo, há também uma guerra discursiva, em que a relação não é da comunalidade das diferenças, mas de controle e sujeição pessoais. Em um momento onde a verdade é relativa e os fatos são irrelevantes, que tipo de narrativa poderia sobreviver a essa cacofonia e sensibilizar as pessoas? A MAGMA parte dessa tensão cultural, e se propõe a ajudar agências, marcas e empresas na concepção e produção de narrativas para suas histórias a partir de uma abordagem polifônica e transformadora.